segunda-feira, 5 de julho de 2010

Regra n⁰4

Tem coisas que não se pode explicar. Tem coisas que não são para ser explicadas. As coisas apenas são.

Aquele dia foi a primeira vez na vida que o vi. Nunca o imaginei, nunca pensei em como era, nunca sonhei. Entretanto, quando nossos olhares se trocaram eles perderam o foco. A multidão não existia, a música não era ouvida, as brincadeiras esquecidas. Como nunca percebi sua existência?

Isso não importa, nada mais interessa. Agora estou aqui, ouvindo sua voz pela primeira vez. O assunto? Sinceramente, não faço nem ideia. Será que realmente ouvia? Ouvia e não entendia. Nada fazia mais sentido.

Seu olhos. Isso eu não esqueço. Queria encará-lo, mas estava tímida, sem saber o que dizer. Mas você era tão... espontâneo! Simplesmente me deixava a vontade. Ali, naquele parquinho, brincávamos feito crianças, mas nos olhávamos feito adultos.

Sentados observando o movimento, ou será que nos observávamos? Assuntos sem pé nem cabeça, frases sem sentido, fotos. O que foi aquilo? O que aconteceu? A Terra parou de girar, a música silenciou, as pessoas deixaram de dançar, o tempo parou. Como pulamos do nada para o tudo, como o tudo virou nada.

Eu mentiria em falar que só me arrependo do que não fiz, porque essa, talvez, seja a única coisa que me arrependo de ter feito. Ou será que foi por não ter feito? Deixar de dizer sim é não fazer algo? Então mantenho meu arrependimento pelo que não fiz.

Regra n⁰4: Só me arrependo pelo que não fiz.

Jamais esquecerei o dia que disse não. Não aos seus olhos, não a sua voz, não ao seu cabelo saltitante, não ao seu jeito único de ser. Disse não ao meu coração. Sei que o magoei, sei que me magoei. O por quê? Isso até hoje não sei.

Tão educado, tão simpático, tão preocupado. Sempre ao meu lado. Quando olhava, lá estava seu sorriso bobo, seu olhar encorajador, seu olhar... decepcionado. Ahh, como me arrependo de retirar seu sorriso, de lhe trazer tristeza. Não posso nem me chamar de egoísta, pois o que fiz sequer foi para meu próprio bem. Egoísta para o próprio mal existe? Se sim, então fui egoísta.

Como quis voltar, queria você ao meu lado. Não só como amigo, mas como naquele primeiro dia, com aquela intensidade inesquecível. Mas o tempo nunca parou, as pessoas nunca ficaram estáticas, a vida continuou. O que nos resta: a lembrança. Pelo menos uma boa lembrança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário