terça-feira, 30 de junho de 2015

O despertar

Depois das horas de descanso pôde abrir os olhos com tranquilidade.
Foi um despertar calmo, de quem está satisfeito. Na medida certa do descanso, sem o gostinho de quero mais. No entanto, ele não quis levantar de imediato. Gostava de estar ali, deitado, tranquilo, em paz.
Sentia-se satisfeito com a vida. Em paz com o relógio, com o mundo.
Sentia-se satisfeito com a vida, um bom emprego, uma família compreensiva, amigos acolhedores e um amor gostoso de se viver. E ele era agradecido, por essa vida fantástica.
Ficou um bom tempo imóvel, deitado  observando o teto. Um mundo de lembranças se projetava ali.
Eram dias bons, eram dias bem vividos. Estava estava bem, estava  em paz. Estava feliz.
De repente, um som ao fundo, o despertador toca.
E ele é sugado pra realidade. Acorda atrasado, seu dia já deveria ter começado.
Não tem tempo para apreciar o despertar, tão pouco flertar com suas lembranças. O dia já começou e ele não devia mais estar ali.
Cambaleando saiu da cama, acordou no corredor a caminho do banheiro.
Ele despertou do sonho. E vestiu sua roupa de viver...

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Eis me aqui

Eis me aqui. Acho que pensando demais, a arte de pensar além das horas permitidas.
Eis me aqui, fazendo as pazes com o teclado. Abri a página do blog, olha eu ali.
Quanto tempo se passou desde o ultimo post? Briguei comigo, me coloquei de castigo. Ignorei que gosto de escrever, pois não queria escrever o que gostaria.
A gente cresce. Dá alguns passos bambos na vida. Cai um bocado de vezes. Machuca e aprende. Aprende a camuflar o que não é aceito, aprende a se prender. Aprende a reter a felicidade, a não explodir. A gente aprende a engolir o choro, o choro de alegria, de tristeza, de prazer.
A gente aprende a falar baixinho, fazer baixinho, ser baixinho. Que tudo não transborde, que todo amor não exploda. Aprende a se conter com a paixão. Aprende a se repreender ao abraçar. E ao ser surpreendida pelo não abraço, a gente aprende a apontar, desviar, disfarçar. Aprende a entender o não cumprimento de uma pessoa querida na rua. Aprende a esconder os sentimentos.
A gente aprende a ser gentil, amável, carinhosa, compreensiva. A ver os outros, querer o bem dos outros, a viver a vida dos outros, esquecer de si. Esquece de se amar, de ser gentil para si, de ter  tempo para si.
Aprende a ignorar seus desejos, postergar dos seus sonhos, deixar de fazer planos, deixar a vida passar, o amor para a melhor oportunidade, a conversa pelo momento certo. E a vida vai passando, o amor se vai, a família se vai e sua vida fica.
Sua vida fica vagando na aleatoriedade, na aula de estatística, nas probabilidades da vida.
Aquele amor que você não assumiu, aquele apartamento que você não comprou. Aquele dia que você não assistiu TV na sala com todos... Você vai sumindo, deixando de fazer parte, deixando de estar, de ser. Estar presente e ser você. Aos poucos você vai indo, sendo levada pela probabilidade de cair em qualquer lugar sem ter raiz alguma. Aleatória na vida, sem laços, sem destino, sem sentido.
E qual foi a ultima vez que  você foi completa, verdadeira, intensa? Sem medo de demonstrar demais?
Eis me aqui fugindo. Eis me aqui fingindo. Eis me aqui, desesperada com tanta coisa para se pensar, com tanto sentimento para sentir, ignorando tanto sentimento, tanto pensamento, tanta vontade.
Eis me aqui fazendo uma terapia, declarando a saudade, sentindo o amor, sofrendo com o amor e amando sentir tudo que estou sentindo.
Eis me aqui, aprendendo, reaprendendo a aprender. Haverão dúvidas, perguntas, indagações, mas faz parte.

Eis que John Lennon e Paul McCartney, ja sabiam
"There will be an answer, let it be"