segunda-feira, 11 de julho de 2011

A febre e a escrita



"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir".
Fernando Pessoa


A frase não podia ter aparecido em melhor hora.
Relembrando de nossa conversa ontem, digo que ultrapassei um pouco do previsto.
Queria ter trinado melhor o que falar, gostaria de ter conversado pessoalmente. Cara a cara, olho no olho.
Mas tudo que consegui foi um telefonema.

Precisava livrar da febre que sentia, que ardia dentro de mim.
Sua indiferença, nosso distanciamento, ausência...
Não articulei bem as palavras. Como uma pessoa enferma que tem delírios com a febre, as palavras sairam incoerentes, por vezes até desconexa.

Sinto que não expressei bem. Sinto que você ouviu, mas não processou.

Falta. Quero de volta O cara que me encantou, o cara com quem sou encantada.
A pessoa que compartilho dos momentos mais ociosos ao mais turbulento.
Amigos também discutem relação.
Amigos sentem falta da presença, da fala, do oi, do toque, do abraço.
Amigos sentem falta do companheirismo, das brigas, da bagunça.
E eu sinto falta de você.

A febre volta, e as palavras não saem como deveriam.
Descontrolo, emociono em pensar que há algo errado.
Você diz que não, mas percebe que estamos diferentes.

A febre arde, em lembrar que dei o exemplo errado, que comparei errado.Que agi errado.

Estou ardendo de febre. Escrever não está adiantando.
Queria você aqui.

5 comentários:

  1. Mais uma vez, você transformar palavras simples em magia.
    "Estou ardendo de febre. Escrever não está adiantando.
    Queria você aqui".
    Requintado!

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  2. Obrigada Bóris!
    Falo muito com o sentimento, acho que nada mais mágico né?!

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  3. Boa escrita não precisa descrever sentimentos, mas evoca-los com palavras simples. Você tem esse talento.

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