Minha mãe costumava me dizer para tomar cuidado com mulheres com as unhas pintadas de vermelho.
Quando a conheci, logo notei suas unhas pintadas de vermelho sangue. Muito sedutora eu diria. Sutilmente provocante até.
Mas agora, depois de tanto tempo, ela estava ali, segurando meu braço com força, quase cravando aquelas perigosas unhas vermelhas em minha pele - o que me faz pensar por um breve momento que talvez minha mãe estivesse certa. Me olhando com aqueles olhos encantadores, mas cheios de lágrimas. Insegura. Dizendo aos gritos que não queria me perder. E eu só conseguia pensar naquelas unhas. Lembrando de como ela ficava linda pintando-as, sentada na cama, concentrada com fones no ouvido possivelmente tocando Artic Monkeys. Eu a chamava uma, duas vezes, e quando ela percebia dava um sorriso e dizia que terminaria logo.
Minha doce garota. Sempre tão sorridente. Mas sempre observadora, até demais eu diria. Preocupada demais com a nossa relação. Possesiva. A ponto de eu não poder agüentar mais. Eu a amava. E amo. Mas não conseguia viver sob aquele olhar constantemente investigativo.
Não consigo dizer a ela o que sinto. Me parte o coração vê-la implorando por uma segunda chance. Mas não posso dar essa chance. Não quero.
Ela solta meu braço. Começa a roer as unhas. De acordo com seu manual, que demorei bastante a interpretar, isso é sinal de tristeza. Soando mais como decepção. E decepcionando minha garota, sei que perdi seu sorriso para sempre.
Frágil. Como queria poder abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem. Mas novamente não posso, porque sei que não vai. Vendo-a daquele jeito, vulnerável, finalmente percebo que não há nada de perigoso, portanto minha mãe estava errada. Ela é inofensiva, apesar de seu breve descontrole momentâneo.
Ironicamente, ela esqueceu um de seus vidrinhos de esmalte no meu quarto. Vermelho cereja.Algo me diz que vou demorar a esquecer essa garota e seu jeito provocante e sorridente. E sei que é exatamente isso que ela quer.
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