Ok, ela venceu.
A teimosa da memória ganhou.
Por que ela insiste em ficar atordoando? Trazendo sempre ideias desnecessárias. Quando somos capazes de nos situar em um universo gostoso de repente ela traz aquela "foto" e como no filme, nos transporta para outro mundo, outro momento. É um dejá vu.
Voltamos no tempo, vemos a cena, o instante, o momento.
Somos capazes de achar que estando ali, algo irá mudar.
Nada muda o que aconteceu.
Brigamos, descabelamos, choramos, odiamos nos amar.
E de repente lá vem ela de novo.
A memória nos transporta para os momentos bons.
O riso, o travesseiro, o suco, a pizza.
Fui levada para o primeiro momento. Para o primeiro beijo. Aquele que naquele dia juramos que seria o último.
Queria ter ficado ali naquele sitio. Queria não ter deitado na mesma cama de solteiro que você. Queria que pudesse mudar o que aconteceu...
E, de repente, ela me levou para a cozinha da minha casa, onde sentados no chão disfarçávamos ainda bem nossas vontades.
Próxima parada, foi um mix.
Passamos pelo sóton de sua casa, onde o bixinho fez xixi no seu sucrilhos, e rimos disso. Beijamo-nos, nos amamos. A surpresa, passos na escada...
De repente estávamos na cozinha, onde você cozinhava e eu lavava a louça, uma chama de fogo quase acertou meu cabelo, sorrisos, apertos, um beijo.
Fomos para o quarto, onde você ficava em frente ao seu computador e eu deitada olhava para o teto, reclamava das teias de aranha, perguntava dos livros...
Fui levada a sala, onde dormíamos desconfortavelmente confortáveis um ao lado do outro, onde o calor do dia, não nos impedia de ficar abraçados...
Almoço de família, bolo de aniversário, presentes surpresa.
A teimosa não me deixa em paz. Ela gosta de picuinha, me faz sofrer.
A cada memória, cada lembrança, tiro a pele da cicatriz.
Ela abre, sangra, dói tudo de novo.
Se não fosse a cama de solteiro, se não fosse o sítio, se pudesse mudar aquele primeiro dia, ela não teria tido tantas e tantas coisas, assim como não teria sofrido em tamanha intensidade, e o melhor de tudo. Se não fosse aquele dia 21, ela não estaria hoje brigando com a teimosia da memória.
E ela ainda teria ao seu lado, seu melhor amigo: O cara.
E uma única vontade:
"Hoje eu queria um abraço daqueles que te sufoca de tão apertado e te protege de tudo."
Caio Fernando Abreu