terça-feira, 30 de agosto de 2011

A partir de hoje

A partir de agora está expressamente proibido me acordar no meio da noite, seja através de sonhos, ou de invasão de lençóis.

Não adianta chegar de mansinho, encontrar a folga do edredom em meus pés. Não pense em vir subindo de mansinho, invadindo meu espaço, desvendando no escuro a subida que leva até o travesseiro.

A partir de agora te expulso dos meus sonhos.

Não quero mais saber cada milímetro do seu rosto, quero desaprender o caminho do seu corpo, a largura das suas costas. Vou desaprender toda leitura que aprendi em braile. Meus dedos não saberão mais o significado de cada pêlo do seu rosto, onde está a covinha, sombracelha, boca e tamanho certo dos seus olhos.
A partir de agora te expulso do meu pensamento.

Não quero mais reviver cada instante que deliciosamente curti ao seu lado. Quero desprender, desfazer, deixar fluir uma vida nova.

Não quero mais passear pelo shopping e ver o presente ideal para você. Não quero mais me pegar pensando no que seria interessante fazer em sua companhia, nas horas vagas, nas horas nossas.

Não quero mais lembrar dos planos, de ficarmos velhos, de sermos nós, de termos nossa casa, nosso armário, nosso tapete. Não quero saber se a cozinha será planejada para você, ou para mim. Não sei quem será o cozinheiro, nossa casa não existirá.

A partir de hoje esta proibido me ligar, mandar mensagem, ou fazer qualquer barulho que interrompa ou interfira qualquer plano que tenho. A partir de hoje proíbo de fazer parte do meu futuro. Retiro daqui tudo e qualquer sentimento, ou qualquer coisa que venha a referir-se como sendo nosso. O eu e você não existe, não seremos nós.

A partir de hoje, sua voz não vai mais me acordar, sua pele não tocará mais a minha, não vou sussurrar, desejar, te ter.

A partir de hoje, a partir desse instante, vou deletar tudo.
A partir de hoje quero ser feliz. E quero que me deixe ser.
E como na música:
It's over and done


6 comentários:

  1. Um excelente texto! O autor, evidentemente, está lutando com uma decisão difícil: abrir mão de alguém que aparentemente se preocupa. Parece que ela ainda tem sentimentos para com o homem, ela pode até ainda o ama, mas decidiu colocar um fim ao relacionamento (real ou imaginário).

    Uma coisa que está faltando é algumas indicações sobre a razão para esta decisão drástica e difícil. Parece que o homem está interessado (ele continua aparecendo em seus sonhos, ela admite que deliciosamente curti AO Seu Lado, ela pensa sobre o presente ideal para ele, etc). No entanto, ela quer acabar com isso. O leitor é deixado com a pergunta: por quê?

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  2. Uma dúvida, de onde vem tanta inspiração? Muito bom texto, pra variar, :D

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  3. Boris,

    Realmente o que ela sente pelo homem é algo incalculável, mas pelo amor a ela mesma (amor próprio) tem de colocar um ponto final.
    As razões do fim, são incalculáveis, pequenos gestos, pequenas coisas se tornam essenciais. O homem é ima inncognita... Não dá para saber o que ele acha, sente. As vezes age para machucá-la, ou pode fazer isso sem intenção. Nada se compara a toda felicidade que viveram juntos...
    É dificil encerrar essa história...
    se é real ou imaginário...

    mais difícil ainda responder.
    =]

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  4. Jordy,
    a inspiração vem das horas que menos se espera...
    esse na verdade surgiu na volta pra casa, dentro do ônibus, entre um pensamento e outro, uma lembrança e outra...

    Obrigada!
    Que bom que gostou do texto.

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  5. Fight!!! òó

    Algumas lutas não devem, ou melhor, não podem ser evitadas, por mais difícil que seja, pois a liberdade depende do resultado delas.

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  6. simples e objetivo...
    sincero e contundente..adorei

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