domingo, 18 de novembro de 2012

Congelados


Mudei o contexto. Mudei a inspiração. Mudei. O mundo me mudou.
São outros pensamentos que ocupam minha mente, meu coração parece que está adormecido. Longe de quem o aquecia, agora está hibernando, esperando o tempo de acordar.
E esses dias me deparei com uma situação muito estranha, e consegui filosofar comigo mesma sobre isso. Filosofar sozinha. Esta sou eu no agora.
Em um sábado qualquer, sai para comprar batata. O desejo do almoço seria comer batata-frita. Sairia da dieta, comeria fritura e seria feliz todo o fim de semana, sem pensar no quanto teria de suar na academia na segunda-feira. Pois bem, sai para comprar batata e assim fiz.
Chegando a casa a cara de interrogação dos moradores me perturbou. Eu comprei batatas. Batata, batata, sabe?! Mas não era isso que era esperado. Eles queriam batatas já cortadas, semi congeladas prontas para fritar. Eles estavam errados? Não.
No mundo de hoje procuramos sempre o mais fácil, mais rápido. Consumimos congelados, enlatados e por ai vai...
E eu, que agora moro numa cidade, digamos, beeeemmmm interiorzão, acho que sai da orbita de cidade grande. De congelados, pré-prontos, etc.
Nem me lembrei do congelado. Comprei a batata (batata, batata), descasquei, cortei e fritei.
Demorou um tempo bem superior, em relação se tivesse adquirido o saquinho do semicongelado-pré-cozido-só-para-fritar.
Mas a batata frita saiu com um gosto diferente, eu fiz, comprei, cortei, fritei. Moldei do  jeito que queria. Coloquei meu tempo ali, minha atenção, minha expectativa. Desfrutei de algo que eu fiz (quase) completamente sozinha.
Complexo, ou viagem completa, mas coloque isso no cotidiano. Quantas coisas queremos pré-prontas? Feitas para nosso gosto, sem que fôssemos nós que fizemos. Quantas coisas adquirimos, pois sabemos que não teremos tempo de fazer algo semelhante, ou até mesmo melhor?
Quanto tempo deixamos de gastar com coisas que seriam prazerosas, pelo simples fato de economizar tempo, para que possamos adquirir, consumir cada vez mais.
Eu já tive preguiça de tentar começar um namoro, por ter que passar pelo passo a passo. Explorar cada momento, entender a pessoa, cativar. Eu queria um namorado pré-moldado, como se isso fosse possível...
E hoje vejo o quão patética fui. Foram tantas não-tentativas, por preguiça. Era uma corrida contra o tempo, mas para quê?
Hoje estou aqui, numa cidade de interior, cortando batatas para fritá-las.
E acredito que mesmo que, não tenha mais todo o tempo do mundo. Mas meu tempo está sendo mais produtivo e prazeroso. Ele está sendo meu. Nada de trânsito, nade de corrida contra o tempo.
Fizemos as pazes.
Posso comprar batatas para fritá-las. Posso me apaixonar e encarar o passo-a-passo.

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