Novembro

Voltando do trabalho ela tinha como objetivo ir para sua residência, foi então que uma vontade a envolveu de um modo enlouquecedor.

Ela precisava desplugar, precisava desligar, necessitava esquecer.
Surpreendera se ao perceber que dava o lugar no banco do ônibus para o senhor sentar. Por mais que o cansaço a consumisse, seus olhos mais do que pesados, desobedeciam a ordem de permanecerem abertos, seus pés latejavam, o inchaço era visível, o salto a torturava, mas mesmo assim ela levantou. Mantinha o fone conectado, através dele a música tocava, mas ela era incapaz de identificar o que estava ouvindo.
O mundo era louco e ela vivia nele. Ela estava enlouquecendo com o cotidiano.
De repente decidiu descer dois pontos antes de sua casa, caminhou sem saber ao certo se era para sua residência que deveria seguir. A noite estava gostosa, o vento soprava. Eram ventos de esperança e renovação.
Um olhar lançado, ela estava na padaria, não comprando pão, mas um vinho.
Desejaria embebedar-se completamente.
Para então dormir um sono tranquilo, um sono que a afastaria dos problemas, responsabilidades e confusões do cotidiano.
Ao sair da padaria, o mundo havia mudado. O vento soprava ferozmente. E a chuva caia.
Contrariando a todos que estavam buscando abrigo, ela saiu com a garrafa na mão. Soltou seu cabelo e olhou para o céu. Aquela água lavaria sua alma, aquele vinho a faria companhia.
Caminhou tranquilamente até seu apartamento, desfez das roupas na sala, sem pudor andou nua. Colocou o vinho no freezer, ligou o som, e o chuveiro.
Lavou a alma duplamente, se envolveu na toalha, colocou a comida para esquentar. Abriu o vinho.
E a noite foi perfeita!

No rádio tocava: