domingo, 6 de janeiro de 2013

Reencontros


"Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Prá mudar a minha vida"

Diferentemente da música. Ele não entrou, mas sim saiu. Agiu contrariando o romantismo, nada de palavras carinhosas saiu pela porta e mudou a vida dela mesmo sem querer.
Ambos seguiram a vida. Ele e os estudos, ele e as construções, ele e sua vida que seria completamente diferente sem ela. Adolescência estendida. Mulheres, bebidas, curtição.
Ela seguiu também. Formou, namorou, construiu, destruiu. Mudou, voltou a estudar. Tentou esquecê-lo. Tentou não pensar nele e por muito tempo conseguiu.
Ignorou aquele pensamento, ignorou aquela fisionomia. Ignorou seus desejos e vontades.
Seguiram.
E eis que um dia o destino provoca o reencontro. Agora era a vez de ela entrar pela porta, uma pessoa completamente diferente do que foi um dia. Enquanto ela chegava, ele já estava ali.
Assim estava ela: sem saber qual pé deveria por a frente para seguir caminhando, o descompasso de sua respiração a atrapalhava pensar, agir. Era ensurdecedor o barulho que seu coração fazia ao vê-lo. Era desordenado tudo que acontecia com ela. O tempo parava para que ela se recompusesse.
Pé frente pé. Sorrisos. Coração a mil. Cumprimentos. Beijinhos no rosto. Toque sutil.
E estava ali. Diante dele... A impressão era de que o tempo tivesse sido cruel com ele. Sua expressão, seu cansaço eram nítidos.
Ao mesmo tempo parecia que o tempo não tinha passado quando os olhos se encontraram. Aqueles olhos que já leram tantos sonhos, tantas vontades, mentiras, paixões... Aqueles olhos estavam ali. Perfeitamente lipídios, descansados, joviais.
E era isso. Olhos que se leem. Orgulho que se tem.
Vidas que seguiram que deverão seguir.
E foi a vez dela sair por aquela porta. Mãos que desajeitadamente quase se tocaram no "tchau".  Palavras carinhosas ensaiaram sair de sua boca. Letras escreveram a felicidade. E ela saiu. Teria de seguir, mas levando consigo a saudade.
Dos olhos, das mãos, dos sorrisos, companheirismo.
Levou consigo a certeza de que irá demorar um tempo para esquecer o encontro.
O outro encontro e o outro...
E a despedida.
Mãos que desencontraram. Um passado que já planejou futuro. E um futuro desfeito.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Bem dito, De.
    Faz-me lembrar das palavras de Conrad Aiken:

    "They laugh in the moonlight, touching hands,
    They move like leaves on the wind ...
    I remember an autumn night like this,
    And not so long ago,
    When other lovers were blown like leaves,
    Before the coming of snow”.

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    1. Lindo o comentário, Boris!
      espero que em 2013 eu consiga voltar a escrever.
      Obrigada, por mesmo que ausente do blog, você permaneceu!

      Um 2013 excelente!

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  3. Belo texto, me identifico, em certas partes, com ele.

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